Pequenos mas Notáveis

Nós Portugueses temos sido sempre, desde D. Afonso Henriques, pequenos. Começamos com um pequeno condado, depois de uma briga familiar em que o filho tomou à mãe a governação do mesmo e não mais paramos.

Esse senhor, o pai da nossa Nação, veio por aí abaixo e foi, com mais ou menos ajuda, conquistando o território então à grande nação árabe que detinha todo o sul da Península Ibérica. Um feito notável.

Mais uns reinados e consolidamos o território continental. Então, já sem grandes preocupações com o território, tínhamos duas opções para sair da miséria em que estávamos. Ou íamos em direção a Castela ou fazíamo-nos ao mar. Provavelmente chegámos à conclusão de que “Ir em direção a Castela é complicado, eles são grandes, têm um exército maior, mais população. Do outro lado temos este mar imenso, desconhecido e que não é de ninguém. Se o conquistarmos será nosso. E não temos que lutar com qualquer exército. Vamos lá a isso!”

Se até ao início do ciclo dos descobrimentos já tínhamos sido notáveis, por termos inventado um território, um país e uma nação, nos descobrimentos tivemos a coragem de nos agigantarmos e fomos descobrir outros mundos. E acrescentamos mundos ao mundo. A Terra, que era pequena, ficou enorme. Inventámos uma nova Terra. Éramos apenas meia dúzia quando comparados a outros reinos europeus. Éramos tão poucos, tão poucos, que o número de habitantes era um segredo de estado, conhecido apenas por alguns.

Sendo pequenos criamos um reino enorme. Era tão grande que é admirável como resistimos quase 500 anos com tantos territórios e tão pouca população que éramos. Só é possível manter tanto território junto com técnicas de gestão, tecnologias, processos de comunicação e propaganda, que os que nos cobiçavam respeitavam e temiam. Mais uma vez fomos notáveis.

Historicamente estamos novamente num momento em que devemos ter a coragem de ser notáveis. Temos que fazer, como nação, o que fizemos na época dos descobrimentos. Éramos poucos, mas juntamo-nos todos, governo, academia, empreendedores e população. Ao unirmos forças fomos notáveis, fomos os melhores, os mais espertos, os mais rápidos, os mais atrativos, fomos invencíveis. Quando estes quatro setores da sociedade se unem num mesmo objetivo, nada nos pode parar.

Mas como fazemos isto? Como podemos todos trabalhar na mesma direção? Nos descobrimentos tínhamos um propósito comum, ganhar o mar, expandir o território e sermos uma grande nação. Unimo-nos todos nessa direção porque as lideranças políticas acreditaram que Portugal poderia ser muito melhor se o fizéssemos. Essas lideranças convenceram as lideranças académicas, dos empreendedores e aglutinaram a população à volta deste desígnio. Formaram um “quadrado virtuoso de cooperação” em que todos os setores da sociedade ganharam. O bolo que era pequeno e mal dava para todos transformou-se num bolo enorme onde todos ganharam. E quando todos ganham crescemos como Nação.

É necessário definirmos um desígnio nacional. Para definirmos um desígnio nacional necessitamos de uma liderança visionária (não me entendam mal, não me refiro a uma só pessoa), que perceba para onde Portugal deva ir.

Garantidamente Portugal não deve ir para onde todos os outros vão. Como disse Lao-Tsé, não sigamos a multidão. Assim como nos descobrimentos, devemos definir um caminho próprio, que nos dê vantagens competitivas em relação aos outros. E no caminho que definirmos teremos que ser os melhores, os mais fortes, os mais rápidos, os mais duros, os mais atrativos, os mais… tudo.

Para sermos novamente notáveis, como é fácil de perceber, não podemos andar constantemente às turras uns com os outros nem fazer o que todos fazem. Basicamente não devemos fazer coisas deste tipo:

  • Nenhum governo, seja de que partido for, deve ser arrogante ao ponto de entender que só ele é que conhece o caminho;
  • Nenhuma oposição deve ser contra, apenas porque não é governo;
  • Nenhum político deve discordar do outro apenas porque não é do mesmo partido;
  • Nenhuma empresa deve pôr a ganância e o lucro acima de tudo, sobretudo da vida daqueles (os empregados) que têm contribuído para a obtenção dos ganhos obtidos;
  • Nenhum sindicato, ou grupo de sindicatos deve fazer greve apenas porque vai prejudicar as empresas sejam públicas ou privadas;
  • Nenhuma classe profissional deve por as suas prerrogativas profissionais acima do bem comum da sociedade;
  • Não devemos combater, devemos debater.

Para sermos notáveis temos que ter soluções diferentes das que implementamos nos últimos 38 anos. Como disse Einstein, repetir as mesmas soluções à espera de obter resultados diferentes não é ser inteligente. Temos que ter soluções que:

  • Não sejam medíocres, enfadonhas. Devem ser excelentes, alegres, motivadoras;
  • Não evitem riscos. Hoje em dia evitar correr riscos é mais arriscado do que correr o risco de inovar, de criar soluções extraordinárias. Não correr riscos significa não produzir resultados, não alcançar nada. Significa ficarmos no mesmo lugar, parados enquanto o mundo, na melhor das hipóteses, nos passa ao lado, pois muitas vezes passa-nos por cima;
  • Sejam duradoras, que se auto regulem, flexíveis e que sejam à prova de estupidez burocrática;
  • Sejam excelentes. Não basta serem boas ou muito boas. Hoje ser bom ou muito bom é uma banalidade. Temos que ser excelentes!

Para sermos notáveis só dependemos de nós. Não importa quão pequenos somos. Vamos a isso?

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Sobre Julio Garcia

Interessado em comportamento humano, marketing social, redes sociais, inteligência coletiva e como o design afeta o comportamento. Interest in human behavior, social marketing, social networks, collective intelligence and how the design affects human behavior.
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