Após uma ausência de 3 meses e depois da época estival, estava novamente na hora de partilhar as minhas reflexões.
Não posso falar de outro assunto que não seja a atuação do governo. Este assunto enche-nos o dia-a-dia e a alma. Não é possível ficar indiferente ao desempenho do primeiro-ministro e da sua equipa.
Quando há cerca de um ano este Governo tomou posse, senti a determinação do Sr. Primeiro-ministro em encontrar uma solução para a situação de bancarrota em que se encontra o País. Retirando o ruido das habituais picardias entre os vários partidos, a verdade é que se definiu um programa para 2012 de forma a encarar o problema, que tinha o apoio do PS, PSD e CDS, a grande maioria da Assembleia da República.
No meu círculo social há pessoas que se opuseram desde logo às medidas então tomadas. Nestes debates entre amigos sempre defendi que não me pronunciaria sobre as medidas tomadas para 2012, enquanto não visse a execução orçamental. A razão era simples, o problema era demasiado complexo, pois há demasiadas variáveis comportamentais. Era necessário começar por algum lado. Entendi que as medidas do final de 2011 e do orçamento de 2012 eram isso mesmo, o início de um processo para resolver o problema da bancarrota em que estamos. Como é óbvio processos destes são dolorosos e todos nós sentimos, uns mais do que outros.
A meio deste ano ficou claro que o plano não estava a funcionar. Há duas razões básicas para isso. A primeira é que as medidas provocaram uma queda abrupta do consumo e por isso da receita fiscal. A segunda razão, para mim a mais grave, é que o corte da despesa do estado está a ser demasiado lento, o que não permite equilibrar as receitas com as despesas e, como em qualquer casa de família, quando se gasta mais do que se ganha o resultado é sempre a falência.
Face à evidência de que a receita não estava a funcionar, tem-se discutido muito na comunicação social que a solução não é mais austeridade, mas aumentar o ritmo no corte das despesas e afinar as medidas fiscais para se aumentar a receita.
Neste ínterim veio o Tribunal Constitucional pronunciar como inconstitucional o corte dos dois subsídios à função pública. Então todos percebemos que deveria haver mais medidas que permitissem resolver um dos maiores cortes de despesa do estado jamais efetuados, embora à custa dos mais fracos. E todos pensamos que haveria uma série de medidas em que o governo iria aumentar a receita fiscal através de mais impostos, acompanhadas de medidas de corte da despesa.
Na 6ª feira dia 7 de setembro, veio o Sr. Primeiro-ministro anunciar a primeira grande medida. Antes de um jogo de futebol da seleção disse-nos que iria aumentar a contribuição para a Previdência Social em 7%, ficando o governo com 1,25% deste valor e dando às empresas 5,75%.
Mas o tema não ficou por aí. Na 3ª feira, dia 11, também antes do jogo da seleção, veio Sr. Ministro das finanças anunciar mais medidas, e terminou a dizer numa entrevista de que ainda vem mais por aí, não só para resolver o problema de 2013, como teremos mais ainda para 2012 (provavelmente medida idêntica a 2011, outra vez a metade do subsídio de natal).
A sociedade foi rápida a responder. Levantamo-nos todos, trabalhadores, sindicatos e empresários, como por exemplo o Eng. Belmiro de Azevedo ou o Sr. Nuno Carvalho, contra a medida, não importando sequer a simpatia partidária, já que a Dra. Manuela Ferreira Leite encarregou-se de por os pontos nos “is” em entrevista à TVI24. O Primeiro-ministro tinha conseguido uma unanimidade.
Quando todos pensávamos que o Primeiro-ministro e a sua equipa eram extremamente obedientes à Troika, ficámos a saber que o Sr. Abebe Selassie, chefe da missão do FMI, que a ideia peregrina da TSU afinal era de autoria do próprio governo.
Isto levou-me a perguntar, afinal o que é que move o Sr. Passos Coelho? Qual é a sua motivação? O que o leva a ter tudo e todos contra ele?
Cheguei a uma conclusão. Se tem um país todo contra e continua teimosamente pelo mesmo caminho, só o pode mover o MEDO DE SER INSIGNIFICANTE como primeiro-ministro. E não é muito difícil de perceber. Com qual governante é que o Sr. Passos Coelho se compara? Obviamente com o Prof. Cavaco Silva.
Todos sabemos da história partidária do PSD o que se passou entre o Prof. Cavaco Silva e o Sr. Passos Coelho. A mim parece-me que essa história está bem viva na memória do Sr. Primeiro-ministro. E agora tem a oportunidade de se tornar no SALVADOR DA PÁTRIA, de ser melhor que a sombra que reside em São Bento, de ter mais significado para o País do que o Sr. Cavaco Silva, mesmo que não tenha tantas competências académicas.
O pior, como diz o Eng. Belmiro de Azevedo, isto é mesmo navegação à vista. Esta afirmação foi complementada pela Dra. Manuela Ferreira Leite quando disse que governar não é fazer modelos econométricos no computador.
Há realmente uma grande dose de falta de experiência nesta governação. Na área mais sensível de governação temos dois académicos sem experiência empresarial, o Sr. Dr. Álvaro Pereira e o Sr. Dr. Victor Gaspar, e um Primeiro-ministro onde também não se conhece história de gestor de sucesso.
Cometem-se continuamente uma série de erros básicos. O Dr. Victor Gaspar quer controlar a tesouraria das empresas. Não entendo como se pode controlar a contabilidade de todas as empresas, nem pensei que estivesse a viver na Coreia do Norte. E admito que a tentativa que vai ser feita vai bloquear operacionalmente as empresas, quando o governo deveria facilitar-lhes a vida baixando o custo da burocracia.
Por outro lado Primeiro-ministro aconselha o Eng. Belmiro a Baixar preços. Não entendo como economista que é o Sr. Primeiro-ministro poder confundir preços com custos. Qualquer estudante de gestão ou economia sabe que os preços são uma função de mercado e não uma função dos custos de produção. Os custos são relevantes para saber se vale a pena produzir. É que se os custos de produção forem maiores que o preço do mercado, então não vale a pena produzir. Quem define o preço é o mercado. Aliás é um dos “Ps” do Marketing.
Outro exemplo. Os académicos da economia comportamental têm estudos que apontam para estratégias completamente diferentes das utilizadas. Lendo Dan Ariely fica-se a saber que lidamos muito melhor com o sacrifício quando este vem todo de uma vez. Por isso recomenda a estratégia de fazermos logo todos os sacrifícios em vez de ser às prestações.
E o que fez o governo faz? Passa os sacrifícios a conta-gotas. Primeiro o Sr. Primeiro-ministro anuncia a nova TSU. Depois o Sr. Ministro das finanças anuncia mais austeridade. Mas não se fica por aqui, pois terminou dizendo, “isto não é tudo, ainda há mais”. Pergunto: é sadismo ou ignorância?
Mas há mais erros e que são a causa da unanimidade dos portugueses contra o atual governo. Olhando para a Grécia vemos que as ondas sucessivas de austeridade têm provocado uma queda sem precedentes no PIB na receita fiscal do Governo Grego. Tanto assim que o défice está sempre a aumentar e a Grécia negocia neste momento o 3º pacote de ajuda. Aqui, há cerca de 2 meses, tivemos uma entrevista do mesmo quadro do FMI que se pronunciou esta semana, dizendo que “Receitas não são solução para substituir cortes salariais”.
E o que fez o governo faz? Vai aumentar os impostos. Digo impostos porque não acredito que este aumento dos impostos gerem aumento de receita. Quando o Ministro Gaspar diz que prevê uma contração de 1% no PIB para 2013 e a taxa de desemprego em 15,5% é porque teimosamente não percebe que retirar liquidez à população provoca queda no consumo e por isso menos venda, mais recessão, o que vai fechar empresas e vai por mais portugueses no desemprego. Mas como os modelos econométricos do Sr. Ministro das finanças dizem que o PIB cai 1% e a taxa de desemprego vai para 15,5%, então assim será (vá-se lá saber quais são os pressupostos do modelo que o Sr. Ministro Gaspar usa). Agora, sem modelos econométricos e usando a intuição. Sei que não é credível mas a minha aposta é que, com estas medidas, o PIB cai pelo menos 2% e a taxa de desemprego vai para os 16,5% a 17%. Aproveito para atualizar a minha previsão feita com o “nariz” com uma mais fundamentada feita pelo BNP Parisbas, publicada no jornal OJE.
Concluo com a pergunta:
Será que o Sr. Primeiro-ministro por ter medo de se tornar insignificante vai levar-nos ao inferno?